segunda-feira, 21 de agosto de 2017
Nós
Foi tudo tão bom quando começou. Foi como todas as boas histórias entre um casal começam. Sem parecer que vai ter fim. A gente foi se conhecendo, se encantando um pelo outro, como se não existisse mais ninguém no mundo. Era tudo incrível. Nós falávamos todos os dias, dividíamos nossas rotinas, desejos, pensamentos, segredos, e a confiança que a cada segundo ia se multiplicando. Era tão intenso, forte e verdadeiro que só enxergávamos nós dois. Como se não houvesse mais ninguém. Como se isso não fosse o nosso precipício. E durou. Mais do que deveria, menos do que queríamos. Ao passar dos dias a vontade de estar junto era maior do que a razão. O desejo era mais intenso do que podíamos suportar. A distância menor do que podíamos enxergar. E a paixão mais forte do que se podia imaginar. Mas o leque da realidade nos pegava vez ou outra. E nos mostrava no espelho um terceiro reflexo. E a gente brigava. E se afastava. E se desejava. Cada vez mais. Foi um caminho sem volta. Não havia mais como cortar se já tinha dado fruto. E a gente viveu. Se prometeu. Todos os dias ao lado um do outro foram os melhores que pudesse existir. Foi como um sonho. A cada beijo na testa, a cada abraço, a cada riso e sorriso, tínhamos certeza de que era aquilo que queríamos. Que havíamos feito a escolha certa, mesmo andando pelo caminho errado. E nos entregamos. De olhos fechados e coração aberto. A cada toque, a cada noite , as mãos a deslizar pelo corpo, a cada respiração ofegante, a cada beijo com mordida, a pele eriçada, a cada sussurrar em intensa penetração, o libido, o olhar que gritara de intensa paixão e desejo, o prazer carnal que nos proporcionávamos , sabíamos que tinha que ser. Nós havíamos nos descoberto. Era eu e ele. A gente se pertenceu, mas não ficamos juntos. E doeu. E acabou. Foi como um furacão que passa num dia ensolarado qualquer. Mas a gente sabia que um dia ele iria chegar. Nossa casa foi edificada na areia, e por isso ela se desmoronou. Como castelos de areia. Tudo que começa errado tem prazo de validade. E o terceiro reflexo existia. Não houve como fugir. E foi devastador. Doeu e dói. Doeu porque não queríamos que tudo tivesse começado e acabado assim. Dói por tudo que ficou. Saudade, lembranças, mágoas, confusão. Intermináveis perguntas e conotações. Verdades ou ilusões. O fato é que estamos presos a essa história da mesma forma que a humanidade questiona a existência de deuses. Ainda há muito de você em mim. Ainda muito de mim em você. Somos inacabados. Temos vírgulas, interrogações e reticências. Mas não temos um ponto final.
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