quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Epopéia

A madrugada silencia tudo que o dia grita lá fora, e escancara todo o barulho que carrego aqui dentro. E quando tudo me cala, eu escrevo. Os anos se passaram, o coração enferrujou mas também está mais maduro. A maçaneta da porta não abre para qualquer um entrar. As estruturas podem estar fracas, mas não ao ponto de correr para qualquer lugar. O peito quer a calmaria de um romance, mas a mente teme os ferimentos. Mas sabe, não adianta idealizar um amor que não existe, o outro não vai suprir todas as nossas expectativas e nem nunca nos magoar, seria irreal. O amor real é difícil, não ao ponto de te ferir demais, mas ao ponto de te fazer questionar. Eu já me esforcei muito por isso e eu tenho certeza que o céu é a maior testemunha do quanto eu tentei, e do quanto eu quis que desse certo. Mas apesar dos pesares, hoje eu vivo bem com o pouco que tenho. A gente tem mania de ter a sensação de que sempre parece que está faltando alguma coisa, sendo que, na verdade, a gente já tem tudo que precisamos — ou talvez o suficiente. Pode não ser em grandes quantidades, pode não ser um luxo, um grande amor, mas o simples e o necessário a gente tem. São os detalhes que enriquecem a vida. E ainda bem que existem as manhãs, os finais de tarde quando todos os pássaros voltam para os seus ninhos. Quando o laranja do céu dá lugar as estrelas, quando a chuva cai, e até o caos da cidade. E por poder transformar tudo isso em poesia.

segunda-feira, 14 de dezembro de 2020

Afeto

Essa noite, olhando a fina chuva cair sobre as luzes da cidade resolvi escrever coisas das quais eu nunca consegui te dizer. Talvez você não saiba, mas todas as vezes que te contei sobre meus medos eu estava te entregando um pouco de mim. Eu nunca conto a ninguém sobre meus temores porque odeio me sentir vulnerável, mas aprendi que amar é ser sensível. Sei falar muito bem o quanto gosto de literatura, girassóis ou qualquer assunto politicamente social, mas admitir o que sinto é tão difícil quanto ensinar uma criança de três anos física quântica - ou até pra mim. Entretanto, quando escrevo, essa teoria muda. Me lembro a primeira vez que li uma mensagem sua que me fez refletir há quanto tempo eu não me sentia confortável de partilhar um pouco dos meus afetos com alguém. Tudo bem que eu não sou das melhores nesse quesito, mas sempre foi de coração. Tua leveza e afabilidade me fez voltar à ser uma menina quando ganha aquele brinquedo que sempre desejou. Queria te agradecer por ter me feito sentir em inesperados momentos que tenho valor, por confiar em mim e até mesmo fazer com que eu me sinta desejada, e não apenas mais um corpo na vitrine por alguém em busca de sexo. Também sei que eu nunca te falei que você é alguém que pouquíssimas pessoas merecem por ser alguém tão incrível e especial. E como eu te acho lindo e inteligente, e o quanto eu adoro olhar sua selfie vestindo um blusão azul e ver seus olhos apertados se confundir com seu sorriso. Você é um ser humano o suficiente bom para fazer com que alguém que enxergue nos dias cinzas a alvorada de um dia melhor, e tantas outras coisas que você é e faz que eu poderia escrever um alfabeto inteiro. Mas por hora, não queria ir embora sem que você saiba o tanto de vezes que ensaie e sonhei com você aqui, e o tanto que eu te quero, mas te quero bem. Nunca fui boa em amar, e sei que ainda preciso aprender muito sobre isso, mas sei que o amor não cabe nas letras, ele ocupa um espaço enorme dentro da gente, e nesse espaço cabe teu nome e tua essência. Queria aprender todas as línguas do mundo só para ter o prazer de te dizer de vários jeitos diferentes que eu te amo, meu ben.