terça-feira, 23 de maio de 2017
Resquício
No meu calendário eu marquei nossa data, e sem acender velas a quaisquer deuses, acreditei que duraríamos até o inverno de 1895. Pode parecer uma data utópica, mas era o desejo de uma vida inteira ao seu lado. Eu sei que quando amamos costumamos a fantasiar coisas, desfigurar rostos e omitir verdades. Mas o meu amor por você era sóbrio e longevo. Acreditei que romperíamos ao menos uma década quando você pediu para que eu não desistisse da gente. Foi então que percebi a diferença entre casa e lar. E eu fiquei deveras feliz porque você tinha a chave da minha porta para entrar e sair quantas vezes necessitasse. Mas você confundiu liberdade com abandono e foi aí que me devastou. A despedida dói tanto que o verbo partir só deveria ser conjugado se o sujeito voltar. E desde então, eu nunca soube o que deixar estar. Sempre penso nisso quando ainda procuro respostas. Entretanto, se nem Deus ousou descer do trono para calar a boca de quem mata, agride e desrespeita em seu nome, quem seria eu para fazer com que você viesse aqui me salvar. O resquício que aprendo disso é que algumas pessoas não conseguem ficar juntas. É como tentar acabar com a areia da praia, apagar as estrelas do universo ou adicionar certos pés aos passos. Talvez nós façamos parte dessa estatística que viola o campo de força magnética, da vontade que espalha nosso sangue e nosso gozo por aí como se não quiséssemos virar zigoto, feto, bebê. Como se não quiséssemos evoluir. E quando tentamos, morremos, como borboletas que duram apenas um só dia. E nessa sub-vida que não se prolongou, eu sempre sonho em voltar para pousar em você.
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